sábado, maio 01, 2021

NOSSO MILAGRE, ÍSIS VITÓRIA!

Olá! Tanto tempo que não apareço por aqui. Muitas coisas aconteceram e este relato escrevi para a revista Marie Claire.  


Me apaixonei pelo meu colega de trabalho. Ele era meu cinegrafista e eu repórter de uma emissora de TV. Foi quando percebi que minha vida ia dar um giro de 360º, pois sempre fomos muito diferentes um do outro e ele era o escolhido para realizar o meu sonho de ter uma família e de ser mãe. Decidimos nos casar 5 anos depois, em 2014. Eu trabalhava em uma afiliada da Globo a 100 quilômetros de casa e ele não quis ir embora comigo. Em 2015, desconfiei que sofri um aborto mas me recusei a investigar pois tinha acabado de ser diagnosticada com trompas obstruídas, o que, segundo o médico especialista em fertilidade, seria impossível engravidar por vias naturais. Meu mundo parecia cair sobre minha cabeça. Comecei a pensar em uma possível adoção no futuro. Um dia uma pessoa disse que Deus revelava a ela que eu teria um filho. Outra vez, mais uma pessoa me disse a mesma coisa. Me agarrei nessa palavra e com a certeza que Deus iria me permitir ser mãe.

Em julho de 2018, estava em casa sozinha achando que sentia apenas uma crise de coluna (já havia operado hérnia de disco por duas vezes), quando me levaram para a emergência desconfiaram de um aborto, fizeram exames em mim e foi constatado uma gravidez de gêmeos. Por conta dos medicamentos para a coluna tive aborto expontâneo com apenas um mês de gestação. Entrei em depressão. Me sentia culpada. Não queria sair de casa e nem falar com ninguém. Fiquei dias em cima de um sofá. Ao questionar a Deus pelo que estava acontecendo, Ele disse pra mim que sua promessa era soberana. 

Isso me deu forças pra continuar a vida e aguardar no tempo Dele. 

Em 2019, meu sonho começou a se esfriar novamente. Estava demorando demais. Fazia exames e estava tudo bem comigo e com meu marido. Porém, nunca mais quis fazer o exame das trompas. Eram períodos de altos e baixos.  Decidi cuidar do meu corpo, achando mesmo que não ia engravidar. Passei um ano realizando cuidados estéticos pensando que não ia mais engravidar. A ansiedade tomava conta de mim. 

O ano de 2020 já não estava começando muito bem. Após perder meu emprego, já estava prestes a me separar, já na casa da minha mãe, fiquei passando mal por cerca de uma semana, com depressão, enjoos, dores de cabeça, sem fome.

No dia 1º de março, meu marido foi me visitar e me levou para casa. Na mesma noite, chegando em casa, comecei a sentir fortes dores e a sangrar muito. Sem saber o que estava acontecendo, tomei um remédio e esperei amanhecer para ir à emergência.

Depois dos exames, veio a notícia: “Bianca, você está passando mal porque está grávida”. Naquele momento não sabia direito o que sentia. Era uma mistura de medo, impotência e felicidade. Na hora disse pro meu marido para não comemorarmos enquanto não tivéssemos certeza que a gravidez iria vingar. Pensava que pudesse sofrer outro aborto porque o momento que minha vida estava não era nada favorável. Desempregada, sem dinheiro, depressiva, desiludida.

Acho que foi aí que Deus falou: “Chegou a sua hora de ser feliz e ter seu sonho em seus braços”.

Uma semana depois voltei a sangrar muito e fui novamente para a emergência. Recebi a notícia que estava com o descolamento da bolsa gestacional, que deveria manter repouso absoluto e que não descobriram o foco do sangramento. Fiquei internada por uns 3 dias, voltei pra casa e alguns dias depois voltei a sangrar muito forte. Retornei ao hospital e mais uma notícia. Estava também com anemia profunda e passei a tomar uma medicação forte na veia três vezes na semana. Durante meus 5 meses de gestação fiquei internada por várias vezes, até perdi as contas, e realizei ultrassonografia cerca de duas vezes na semana. Com a bebê estava sempre tudo bem. Com 26 semanas de gestação voltei a ficar internada, pois já sentia fortes contrações. Ela já estava querendo sair do forninho e tive que ter um acompanhamento mais rigoroso. A UTI Neonatal já estava informada que minha menina poderia nascer a qualquer momento. A vaga dela já estava reservada. 

Durante minha última internação, com 27 semanas, me transferiram para uma ala onde tinham idosos com problemas respiratórios, como pneumonia. Certo dia um médico chegou e disse para uma filha de uma paciente que a mãe estava com suspeita de covid-19, além do câncer que já enfrentava. Entrei em desespero e logo me voltaram para à maternidade. Mas já era tarde demais. Já tinha sido infectada. 

Sem saber que estava com o coronavírus, no mesmo dia da minha alta já não sentia o gosto de um sanduíche que comia. Fui pra casa e uns três dias depois comecei a ter outros sintomas como febre, dor de cabeça, falta de paladar e olfato e muita, mas muita falta de ar e dor no corpo. 

Esperei os 8 dias para realizar o teste e deu positivo. No mesmo dia me internaram novamente e quando cheguei na recepção do hospital comecei a sentir fortes contrações. 

Já no quarto da ala de pacientes com covid-19, comecei a tomar medicamento para segurar a bebê e os médicos que iam me visitar diziam que não estava na hora e que nem dilatação eu tinha. Estávamos na tentativa de segurar o parto para mais umas três semanas. Porém, as dores só aumentavam. Fiquei duas noites gritando com muita dor, as contrações iam e voltavam, sem falar da falta de ar que eu sentia e o medo de estar ali, sozinha, pois não podia ter acompanhante. 

No dia 24 de agosto às 8 horas da manhã, uma médica obstetra de plantão foi me ver, fez toque e disse que não estava dilatando e que a bebê não iria nascer. Ali começou um sofrimento maior. Voltei a sangrar e me voltaram para o repouso absoluto. 

Estava com um baby dool e a técnica de enfermagem da ala disse para a outra colega de trabalho: “Vamos dar um banho de leito na Bianca, colocar uma camisola aberta nela porque essa bebê vai nascer hoje”. A colega disse: “Que nada! Os médicos já disseram que não, ela nem está dilatando”. A técnica disse: “Escuta a voz da experiência”. Quando ela disse isso eu ouvi lá no fundo: “Escuta a voz de Deus”. Foi quando senti a presença do Espírito Santo muito forte naquele lugar. Logo falei: “Eu não estou sozinha. Deus está aqui!”


Às 10h outro médico obstetra plantonista foi ao meu quarto a pedido das funcionárias da ala porque eu gritava muito de dor e novamente fez o toque e disse que não tinha dilatação e que a bebê não iria nascer, pelo menos naquele dia. Em seguida, Deus enviou uma fisioterapeuta do CTI para fazer massagens em minhas costas e pernas. Consegui relaxar por poucos minutos e até cochilar.


Às 11 horas já não conseguia mais respirar com tranquilidade. Me faltava o ar e a dor da contração aumentou desesperadamente. Eu comecei a gritar ininterruptamente. Quase todo o hospital ouvia meus gritos. O pânico começou no andar onde estava porque nada fazia eu parar de gritar. Achei mesmo que fosse morrer de tanta dor e falta de ar. As técnicas de enfermagem e a fisioterapeuta que estavam comigo já não sabiam mais o que fazer. Eu só gritava: “Jesus, tem misericórdia de mim, eu vou morrer!”, “Deus, me ajuda!”, “Misericórdia”, “Deus!”. 

A dor só aumentava e a bebê começou a sofrer dentro de mim. Ficava pulando de um lado pro outro dentro da minha barriga como naqueles filmes alienígenas. Senti muito medo, pois achava mesmo que fosse morrer. 

Às 13h minha bolsa estourou e ninguém sabia se estava fazendo xixi ou se era a bolsa que havia estourado, já que as profissionais nunca tinham visto de perto um parto natural. Nesse momento a técnica ligou para a maternidade e disse que eu não parava de gritar e pediram que descesse comigo. Quatro minutos depois a técnica me disse para eu me acalmar porque não iria morrer e nem a bebê nascer já que os médicos disseram isso e que iriam descer comigo pra maternidade. Quando coloquei a mão embaixo, senti os cabelinhos da minha bebê e perguntei:”Então o que é isso aqui?”. Nossa! Nesse momento foi um corre-corre. Eu perguntei para a fisioterapeuta que era a única que ficou comigo na hora. “O que eu faço, chupo ou faço força para ela sair? Na mesma hora ela disse, faz força que eu seguro ela. Fiz apenas duas forcinhas e ela pulou, a fisioterapeuta tentou segurá-la mas escorregou nas luvas e caiu sobre a cama. Neste momento chegaram vários médicos da maternidade, do Cti, da ala da Covid-19. Foi um desespero e um alívio. Eu mal consegui ver a minha filha, já que uma enfermeira a enrolou no próprio lençol e a levou direto para a UTI Neonatal. 

Só consegui ver um pedacinho da perna dela e vi que era tão branquinha. Enquanto eu chorava de tanto pânico, porque eu não escutei o chorinho dela, uma obstetra tirava minha placenta, que a colocou sobre minha barriga em forma de coração. Isso me tranquilizou um pouco. Lembrei do amor de Deus com a minha vida. Logo em seguida, recebi a informação de que estava tudo bem com a minha filha. Fiquei ainda mais aliviada.Tomei um banho e descansei. No outro dia recebi alta e fui logo ao cartório registrar minha filha. 

Fui pra casa e tudo que eu desejava era que minha filha saísse logo da UTI. Dois dias depois recebi uma fotinho dela. Que coisinha mais linda! Meu coração foi pura gratidão e emoção. A informação que recebia a todo tempo era que ela precisava ficar na UTI para ganhar peso, já que tinha nascido de 29 semanas.


Depois de 2 dias do nascimento dela comecei a sentir fortes dores nas pernas e contrações como a dor parto. Liguei pra minha médica e ela me passou uns remédios para a dor. Minha mãe até disse que poderia ter outra criança. As dores, novamente, só aumentavam e no quinto dia começaram as febres que me deixavam ensopada durante a madrugada. No oitavo dia, me senti um pouco melhor e decidi ir ao hospital conversar com o médico da UTI e tentar ver minha filha. Chegando lá o médico disse que já me esperava pra conversar. Sentamos no corredor, em frente à porta da UTI, a poucos metros de onde minha filha estava e ele começou a falar. Primeira coisa que ele me disse foi que a situação da minha filha não era nada boa. Ali senti o chão sumir. Minhas pernas começaram a ficar bambas e sem saber ainda de toda a história comecei a chorar desesperadamente. Minha mãe que estava comigo começou a me consolar e pedindo pra ouvir o que o médico tinha pra me dizer. Ele continuou. “Sua filha chegou aqui muito debilitada, muito fraquinha e sem saber o que ela tinha direito, como sua saturação foi caindo, decidimos entubá-la. Fizemos uma punção lombar e identificamos uma meningite bacteriana”. Meu desespero foi só aumentando. Ele continuou: “Ela deu uma pequena febre e fizemos um exame de sangue e identificamos uma sepse (infecção generalizada)”. Pronto! Achei que eu fosse morrer de tanto chorar! Pensei comigo que já tinha recebido todas as notícias do estado dela. Foi quando chegou uma enfermeira entregando um laudo de exame para ele, ali mesmo no corredor e era o exame da minha filha. Ele olhou pro papel e pra mim e disse: “Ela também está com covid-19”. Entrei em desespero maior porque era uma doença nova e que já estava matando muitos. Ele tentou me explicar que ela poderia ter se contaminado pelas condições em que nasceu. Dali em diante já não conseguia ouvir mais nada. Só queria ver minha filha pela primeira vez já que não sabíamos o que poderia acontecer dali pra frente. 

Como ela estava em isolamento e eu já tinha terminado minha quarentena, ele permitiu que eu a visse. Chegando na porta do quartinho de isolamento, passei por um hall para colocar toda aquela roupa, me paramentar. Quando entrei no quarto, a vi pela primeira vez. Ela dentro daquela incubadora, com as laterais da cabecinha raspada para acesso venoso, porque era cabeluda a menina, e com apenas uma fraldinha. Já tinha sido extubada pela primeira vez. Ficou apenas 3 dias com o tubo. Estava apenas com a sonda de alimentação. Foi a melhor e a pior sensação da minha vida. Estava diante da minha promessa e do medo de perdê-la. 

Fui pra casa arrasada. Contei pro meu marido porque ele também não estava sabendo dos detalhes. 

No outro dia voltei ao hospital para fazer uma curetagem para retirar o resto de placenta que ficou dentro de mim. Entrei no centro cirúrgico, me deram a anestesia hacker, aquela que tomaria se tivessem feito a cesária em mim. Passei a noite no hospital e recebi alta no outro dia. 

Minha vida ficou completamente voltada à rotina de ver minha filha diariamente. Todos os dias, no mesmo horário, enfrentava aquela dor, me preparava para entrar naquele quartinho para vê-la. Os dias foram passando e as notícias chegando. Nos primeiros dias, os exames de sangue não apresentavam melhora. Os antibióticos não faziam efeito. Meu desespero aumentando. O medo tomava conta de mim, mas focava meus pensamentos em Deus. Os médicos foram trocando os antibióticos e depois de uma terceira tentativa, os resultados foram aparecendo. Logo em seguida ela apresentou um episódio de apneia e tiveram que colocar um Cpap (Pressão Positiva Contínua das Vias Aéreas) para ajudá-la a respirar e sua saturação não cair.

No dia 10 de setembro, ao chegar para mais um dia de visita, o médico me falou que ela teve uma piora e que teve que ser entubada novamente. Ela teve pneumonia, atelectasia, icterícia e anemia profunda, foi necessária uma transfusão de sangue. No dia 15 tentaram extubá-la, mas sem sucesso, tiveram que entubá-la novamente no mesmo dia. A extubação total aconteceu no dia 20 de setembro. Foi um alívio tão grande. Já contando os dias para aquilo tudo acabar. 

Já com quadro clínico melhorando, o médico resolveu pedir uma tomografia do crânio por conta da meningite, que já estava curada, a qual apresentou uma dilatação ventricular no cérebro, sendo confirmada depois por uma ressonância magnética. Porém, o médico disse que isso não o impediria de dar alta. 

Aquela sensação de alívio ia chegando. Em mim já era só gratidão. Tudo que passamos foi pela permissão de Deus e a oração pela minha menina era feita em vários estados do Brasil e por amigos na África. Deus ouviu nossas orações. Ele cumpriu sua promessa. No dia 25 de setembro peguei meu milagre pela primeira vez no colo. O que senti no momento não dá pra explicar. Ísis, que depois recebeu o segundo nome Vitória, recebeu alta no dia 26 de setembro. Foi o segundo melhor dia da minha vida. 

Entramos numa nova fase, nova rotina de consultas com outros médicos especialistas e fisioterapia. 

Todo mundo acompanhando a sua história que era contada com riqueza de detalhes pelas pessoas e imprensa local. Com seis meses teve uma virose que quando recebi o resultado do exame entrei em pânico. Ela venceu mais essa. Com sete meses teve bronquiolite. Foram dias de tratamento, medo e angústia, porém, mais uma vitória. 

Hoje, Ísis está com 8 meses, cheia de saúde, simpatia e muitas risadas. É o amor mais lindo que podemos sentir. Ela nos ensina e nos inspira todos os dias. Ah! Meu casamento vai bem, obrigada! E meu emprego, o recuperei, no mesmo lugar e setor depois de um ano de tribulação. Agora, só felicidade para cuidar da nossa linda Ísis.

Com tudo que nós passamos, Deus nos deu uma lição. Promessa é promessa. No tempo Dele a promessa vem. E deserto é lugar apenas de passagem e não de estadia.











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